terça-feira, dezembro 14, 2004

Kraftwerk

Não se pode falar do movimento do Electro e dos seus derivados sem primeiro reconhecer a sua paternidade.E não existem hoje grandes dúvidas de que os alemães Kraftwerk são os principais impulsionadores do forte crescimento que a música electrónica teve desde a última metade dos anos 70 até aos dias de hoje ,seja ela de cariz dançável ou não.

Os Kraftwerk formaram-se no início dos anos 70,e ao começo eram unicamente integrados por Ralf Hutter e Florian Schneider,que se conheceram quando eram estudantes no Conservatório de Dusseldorf,por volta de 1968.Eram grandes fans de Jazz(sobretudo Free-Jazz) e das fusões entre o Jazz e outros estilos como o Rock Psicadélico,e também de música negra (eles sempre se afirmaram com fãs de James Brown,o padrinho do Funk),e formaram-se numa altura em que o Krautrock começava a nascer (com bandas como os Can ou os Neu!).Também se sabe que eram fãs de David Bowie e Iggy Pop.

Até 1974 editaram três albúns (Kraftwerk,Kraftwerk 2 e Ralf & Florian),mas só a partir da edição do albúm Autobahn(1974) é que começaram a ganhar um reconhecimento mais alargado,inclusivé em países como a Grã-Bretanha e os Estados Unidos.Nesse albúm já contavam com a participação de outro membro,Wolfgang Flur.E foi aqui que se iniciou o seu período de maior inspiração e de reconhecimento em termos gerais, aliado a um forte visionarismo do que poderia vir a ser o futuro,e também de um certo fascínio pela fusão entre o homem e a máquina,período esse que durou até 1981,com a edição de Computer World.Entre Autobahn e Computer World foram editados os seguintes albúns: Radio-Activity,de 1975(em que Karl Barthos entrou para a banda,criando assim a formação clássica dos Kraftwerk),Trans-Europe Express,de 1977 e Man-Machine,de 1978,todos sem excepção obras-primas da música electrónica.Os Kraftwerk durante esse período influenciaram muita da música que a partir daí se ouviu,e atingiram diferentes públicos,e eram ouvidos nos mais diversos sítios ou situações.Tanto se poderia ouvir Kraftwerk numa qualquer festa do "Jet-Set",como no sossego da nossa casa,como numa qualquer noite mais dedicada a grandes maratonas "Disco",como numa "block-party" de um bairro como o Bronx.Ou seja,os Kraftwerk estão ligados ás primeiras experiências electrónicas no Disco-Sound e também ao nascimento do Hip-Hop,assim como ás vagas New-Wave,Electro-Pop e New-Romantics que surgiram entre o fim dos anos 70 e o início dos anos 80.

Em 1981,editaram a que a meu ver foi a sua última grande obra-prima,o já referido Computer World,em que levaram a existente tecnologia usada para fazer música até ao limite das suas capacidades,e em que previam,de certa forma, o advento das comunicações através de redes de computadores,ou seja,a internet,tal como a conhecemos hoje.E em 1983 editaram o seu último grande single,o Tour de France,quando se vivia em pleno a febre do "breakdance",e onde o estilo favorito para o dançar era uma mistura explosiva entre a Electrónica e o Hip-Hop,estilo esse também conhecido como Electro-Funk,ou simplesmente Electro(hoje em dia conhecido como Electro Old-School).Por volta de 1982 havia sido editado um dos maiores hinos desse género,o Planet Rock de Afrika Bambataa&The Soulsonic Force (produzido por Arthur Baker e John Robie) que utilizava de forma "descarada" o Trans-Europe Express dos Kraftwerk e de certa forma também o Numbers dos Kraftwerk(os Kraftwerk não se importaram com isso,mas a companhia discográfica dos Kraftwerk não foi tão benevolente...).Escusado será dizer que o Tour de France(sobretudo a remistura de François Kevorkian,que aliás respeitava muito o original) também se tornou um tema de eleição para os "breakdancers".Nesse ano era suposto os Kraftwerk terem editado um albúm de nome Technopop,mas á última da hora decidiram cancelar essa edição.

Em 1986 os Kraftwerk voltaram e editar um albúm,de nome Electric Café,albúm que também é excelente,mas que para mim já não ocupa um estatuto de obra-prima como os anteriores,em que os Kraftwerk deixavam de ser os que ditavam os avanços na música electrónica,e passavam de certa forma também a segui-los.E em 1986 vivia-se o advento do House em Chicago e do Techno em Detroit,estilos esses também fortemente influenciados pela obra dos Kraftwerk,através de produtores como Marshal Jefferson,Adonis,DJ Pierre (Chicago) ou Derrick May,Kevin Saunderson,Juan Atkins (Detroit).

Os Kraftwerk só voltaram ás edições discográficas em 1991,com o albúm The Mix,que no fundo eram remisturas a tentar modernizar temas como Autobahn,Computer Love,Trans-Europe Express,The Robots,etc...Após esse albúm,Wolfgang Flur e posteriormente Karl Barthos saíram do grupo.Só em 2000 se voltou a ouvir falar dos Kraftwerk,aquando da edição de um single alusivo á Exposição de Hannover em 2000,o Expo 2000,com remisturas de Underground Resistance ou François Kevorkian(mais uma vez...).

Finalmente em 2003 voltaram a editar um albúm de originais ,o Tour de France Soundtracks 2003,em que mantêm o som que os tornou famosos,e numa época em que o Electro com novas roupagens (Electro-House,Electro-Techno,Electro-Punk,etc) voltava a gozar de um forte reconhecimento por parte da comunidade dançante,e em que se voltou a ouvir música que deve e muito aos Kraftwerk.Já não acredito que consigam voltar a ser os visionários que foram nos 70 e no início dos anos 80,mas apesar de tudo continuam a estar á frente de muita coisa que se produz hoje, e espero que não voltem a estar tantos anos sem editar outro albúm de originais.

p.s.Como já devem de ter reparado,não é só uma pessoa que participa neste blog,sou eu e outro amigo meu...e no futuro poderão existir colaborações de outras pessoas.Poderão achar que o blog assim poderá não ficar muito coerente...mas a vida também não é coerente...

1 comentário:

Anónimo disse...

Bom post, parabéns pelo blog também.
Como fã do electro que sou, os Kraftwerk são sem dúvida idolos. Foram enormes e já deram muito ao mundo da música electrónica. Muita gente não sabe isso. Mais uma x bom post.
Fika bem
prczacarias@hotmail.com