domingo, março 13, 2005

Crónicas Nocturnas # 12

Foi um fim de semana de contrastes, este que passou...

Na sexta, eu e um amigo meu, no Kopus, sentimos na pele a podridão, a falta de rectidão e a crise de valores que cada vez mais marca presença na noite de Setúbal. Mas quero realçar desde já que a pessoa que nessa noite estava á frente do Kopus foi muito bem educada para connosco, foi correcta, ouviu-nos com atenção, respeitou-nos, e é óbvio que tudo o que se passou a ultrapassou completamente, por estar metida numa situação de que não estava á espera...

Após algumas confusões entre datas, ficou acordado que eu e o meu amigo iríamos passar som ao Kopus esta sexta que passou, dia 11 Março. Chegamos lá, com o nosso material, e perguntamos pelo dono. É-nos dito que o dono se encontra adoentado, não podendo estar presente nessa noite. E é-nos dito para irmos ter com o DJ residente (que não é o verdadeiro DJ residente, esse encontra-se de férias). Fomos ter com o DJ, e ele diz-nos que só tinha ordens para nos deixar tocar apenas quando chegasse o "nosso pessoal". Não percebi o que ele quis dizer com aquilo, mas caguei para isso. A seguir pergunta-me se eu tinha o seguro em dia, ao mesmo tempo que toca com os dedos numa das agulhas de um dos pratos Technics. Pensei que ele estaria a querer-me avisar que a agulha estaria fragilizada, mas não era esse o caso...as agulhas eram dele, e pediu-me para ter cuidado com elas, que eram muito caras...pensei cá para mim "só as trouxeste porque quiseste, ninguém te obrigou a isso, e decerto que a casa tem agulhas...". A seguir, conforme foi chegando público (bastante jovem, diga-se de passagem...por vezes faziam-me recordar os recreios quando andava na escola secundária...), o DJ tocava uma música horrível e já mais que gasta (já nem no SpyClub tocam temas daqueles...). Eu, pessoalmente, sou adepto de se tentar educar e divertir ao mesmo tempo quem me ouve, e prefiro arriscar vazar a pista do que tocar "mais do mesmo", e sou adepto de tentar mostrar coisas novas... E o tempo passava, e não havia meio de nos deixarem ir para a cabine fazer o nosso trabalho. Ao lado do DJ encontrava-se um jovem, que fazia de "light-jockey". Entretanto a pista começa a vazar. Para nossa surpresa, o DJ mete o jovem a passar som, e a seguir vem ter connosco para nos dizer que o jovem só vai tocar 4 ou 5 música, e que a seguir entramos nós, e que era chato estarmos a tocar para uma pista quase vazia. Entretanto, a pista volta a ficar mais composta, mas o jovem continua a tocar bem para além das 4 ou 5 músicas, e o DJ nada nos diz...aparentando que queria evitar falar connosco. Entretanto o meu amigo diz que vai lá abaixo. E o DJ vem depois ter comigo, a dizer "pá, eles só querem disto, o que queres?" Querendo o público o que se estava a tocar, ou não, fomos ao Kopus com intenção de fazer uma noite diferente, de mostrar o nosso trabalho, e temos confiança nas nossas capacidades de tentar virar a nosso favor cenários desfavoráveis...Entretanto o meu amigo diz que a pessoa que estava a cargo do Kopus naquela noite queria falar connosco. Mais uma vez quero realçar a boa educação, o respeito, a simpatia e a seriedade da pessoa em questão. Ouviu-nos com toda a atenção do mundo, e achou melhor que deveríamos vir passar som noutra altura, e até ficou com os nossos contactos, e pediu-nos as mais sinceras desculpas. Mas esperemos que essa pessoa não fique ofendida connosco, pois não queremos nunca mais voltar ao Kopus, nem como DJs, nem como clientes, porque temos o nosso orgulho, e esse orgulho foi ferido, não fomos respeitados pelo DJ, que apesar de ter já uns anos disto, não tem nada que ter atitudes menos correctas. E tenho pena, porque o staff do Kopus é constituído por pessoas bastante simpáticas e trabalhadoras, sempre sorridentes e aparentemente contentes com o bom trabalho que lá estão a prestar. Aliás, esse é um dos pontos fortes do Kopus, o staff. Agora penso que o Kopus devia tentar a pouco e pouco atrair um outro tipo de clientela, porque esta que eles têm agora não é muito fiável nem em termos económicos nem em termos de fidelidade a uma casa, e poderão deixar, sem qualquer aviso, o Kopus numa situação crítica. Pena também não estar lá o verdadeiro DJ residente e o dono, também pessoas que eu tenho como sérias, porque se eles lá estivessem, tenho a certeza absoluta que não se teria passado o que se passou...Nunca na minha vida me senti tão humilhado e gozado como nesta noite. Senti que me faltaram (e ao meu amigo...) ao respeito e que não nos deixaram fazer o nosso trabalho, que nós achamos válido, pese embora certas opiniões contrárias. Aliás isto demonstra a tacanhez, aposta no facilitismo, e alguma falta de valores (embora continue, felizmente, a existir quem os tem) existente na esmagadora maioria das casas da noite setubalense. Se não se mostrar coisas novas aos jovens, a noite de Setúbal nunca vai sair da cepa torta...

Em contrapartida, no sábado fui, com mais dois amigo meus, ao Portão Bar, no Barreiro, para a nossa residência mensal que por lá temos. E lá sentimo-nos respeitados e apreciados, e o mais importante...confiança total em nós. Lá podemos tocar o que bem queremos e nos apetece, tendo em conta, é claro, quem se encontra á nossa frente, mas não tocamos um único tema que não gostemos, não temos pressões de espécie nenhuma. Tanto temos a liberdade total para tocarmos coisas novas e frescas, como coisas que, não sendo tão novas, são desconhecidas. E lá damos aso ás nossas tendências mais "rockeiras", tocamos coisas mais centradas no Punk-Funk, no Electro mais "rockeiro", no Electro-Pop, no New-Wave ou no Indie-Rock,(The Clash, Sex Pistols, LCD Soundsystem, Riton, Adult., Rapture, Radio 4, Human League, Depeche Mode, Chemical Brothers, Prodigy, Dirty Minds, B 52s, etc foram alguns dos nomes mais ouvidos e/ou tocados no Portão Bar) mas sempre numa onda bastante dançável e frenética. Ontem foi uma noite bastante movimentada (até ás minhas amigas Sistas por lá apareceram...eheheheh), e ao contrário de Setúbal (excepto certas noites no Baco ou no ADN), as vários "tribos urbanas" convivem pacificamente, tanto se vendo pessoal do "streetwear", como pessoal "freak", como pessoal "beto", como pessoal "punk", etc...e tudo a conviver pacificamente. E em muitos sítios do Barreiro, toquem House, ou toquem sonoridades alternativas, ou toquem sonoridades comerciais, a afluência de público é bastante heterogênea, não se vendo aquela coisa ridícula de se ter porteiros num bar, tão habitual em Setúbal...

Para quando mais sítios e/ou noites de qualidade, com pessoas de qualidade, em Setúbal?E para quando a mais que necessária mudança de mentalidades?

4 comentários:

MP disse...

Numa palavra... "ouch". Aconteceu-me uma coisa parecida no "amo-te chiado" há uns anos. Como é óbvio, também não voltei lá.
Um abraço

Electrobot disse...

Bolas! Pensei que em sítios como o "amo-te chiado" tivessem um pouco mais de sensibilidade,mas estou a ver que em Lisboa também acontecem casos desses. E fazes tu bem em não voltares a lá pôr os pés. Eu no Kopus também não lá volto a pôr os pés.

Por falar em "amo-te chiado", parece que cá em Setúbal, no local onde está o Clubíssimo, querem fazer um "amo-te Setúbal" (pelos boatos que ouço...). Vamos lá a ver se mal por mal respeitam a estética e política musical de (alguma) qualidade dos "amo-tes" por aí espalhados, e não cedem á música "comercial" já por demais espalhada em Setúbal...

M.P., um abração, e obrigado pelo post.Gosto de saber que continuas um leitor atento do meu blog. E gostava de tar aí em Londres a fazer-te companhia por essas deambulações nocturnas "electrificadas".

cakesfactory disse...

O que aqui relatas é triste, muito triste. E nada raro, infelizmente. É uma falta de respeito inadmissível, uma vergonha.
O tal DJ que referiste não deveria sequer estar no meio, aparentemente não o merece. Borrifa-te nisso e segue o teu caminho, o caminho da música. É o que interessa.
Abraço

Anónimo disse...

Faço minhas as palavras do Eduardo, o sentimento de humilhação foi grande e dificil de se entender... Pelo menos para pessoas normais. Nada justifica tais reacções apesar das "complicações" d gestao da casa, como o gerente estar doente e o dj estar de férias. Por mto q tente n csg encontrar palavras e justificações para tal equivoco. Foi um podre bem fundo da noite de Setúbal, e consequentemente um gozar c/a nossa cara. O orgulho foi ferido e como tal, n contem c/a nossa presença na casa, nem como clientes, nem mto menos como djs... São nestas pequenas grandes situações q s ve o estado da noite Setubalense.