domingo, dezembro 10, 2006

Ficções - Noites Em Claro capítulo 1

Estava Almeida, um dos melhores DJs da sua freguesia, sossegado em casa, quando recebe uma chamada no seu telemóvel. Ao verificar o número, viu que pertencia a Belarmino, conhecido empresário da noite. Almeida pensou para com ele :

- Que quererá este gajo?

Atendeu, e iniciou-se o seguinte diálogo:

Almeida (A) – Então, Belarmino, tudo bem?
Belarmino (B) – Tudo. Olha, preciso de falar contigo...podes ir ter comigo esta noite ao Guloso Snack Bar?
A – Para quê?
B – Epá, vou abrir um bar novo, e gostava de falar contigo...estou a precisar de DJs para serem lá residentes.
A – Ok, na boa...ás 22 no Guloso?
B – Yah, pode ser. Até logo. Um abraço.
A – Até logo, abraço.

Almeida achou o telefonema curioso. Há cerca de um mês, na festa de anos do DJ Luigi Scallop, no Rosa Vermelha (uma conhecida casa de meninas da zona, naquela noite em questão transformada numa espécie de Lux), tinha encontrado Belarmino, e este tinha-lhe dito que nunca mais iria abrir uma casa ali na zona, que queria ir tentar a sorte para outros lados. Pelos vistos tinha voltado atrás na sua decisão. Bem, logo á noite veria o que ele queria...

Ás 22, lá se encontraram no Guloso. Belarmino surge com a roupa toda suja, estilo trabalhador das obras. Novo diálogo se estabelece :

B – Almeida, ainda bem que pudeste aparecer. Anda, vem ali comigo, que o bar é já aqui perto.
A – Ok...o teu bar anterior também era aqui perto.
B - Eheheheh...é no mesmo sítio onde era o outro.

Chegados lá, estavam lá trabalhadores a pintar, a colocar candeeiros, a retirar entulho.

A – Epá, isto está um caos. Vai abrir quando?
B – Já amanhã!!!
A- A sério!?!
B – Não te preocupes que isto é rápido. Já estou calejado nestes filmes.
A – Yah, não duvido.

Almeida sempre achou estranho esta mania de se abrirem as casas assim tão á pressa. Há sempre qualquer coisa que acaba por nunca ficar a 100%. Para não falar do intenso cheiro a tinta fresca que se sente no dia da inauguração. Mas enfim, não era problema dele.

A – Belarmino, diz lá então o que queres de mim.
B – Epá, queria um residente, um gajo que no início de noite passasse assim uma onda mais revivalista, e, com o avançar da noite, começasse a passar umas coisas mais modernas, som assim estilo Lux...
A – Sim, estou a perceber...
B – E, epá, acho que és o gajo mais indicado para isso. E preciso que estejas cá 5ªs, 6ªs e sábados.
A – Epá, eu ás 5ªs já tenho uma residência semanal no Ácido, e, como bem sabes, sempre foi dos meus sítios de eleição aqui na zona, e é para mim um privilégio lá estar. Corram as noites bem ou mal, nunca abdicarei de lá estar. Só uma muito forte razão me levaria a isso. Espero que compreendas. Agora 6ªs e Sábados...é na boa. Se bem que esta 6ª também não posso aqui vir, porque já tenho uma data marcada...
B – Epá, mas que chatice...em relação ás 5ªs compreendo-te perfeitamente, e conheço bem a tua forte ligação ao Ácido, e só tenho é de respeitar issio,mas agora com a cena de 6ª é que me fodeste...
A – Epá, mas que queres? Quem te manda abrir uma casa assim tão á pressa? Esperavas mais uma semana, que não te fazia mal nenhum. E eu também não adivinho, né? Ainda não cheguei ao nível do saudoso Zandinga...
B – Epá, mas não podia ser. Tempo é dinheiro. Bem, amanhã e 6ª desenrasco-me com outro gajo qualquer, mas ficamos combinados para sábado, ok?
A – Ok , na boa.
B – Olha, toma lá uns convites para a inauguração...para ti e para os teus amigos. Vens cá amanhã, antes de ires lá para o Ácido, não?
A – Claro, não vou perder. Até porque quero ver como é que te vais desenrascar para isto amanhã estar operacional.
B – No stress. Já não é a primeira vez.
A – Nome engraçado o do bar...Viródisco.
B – Pois, sempre gostei daquela expressão “vira o disco e toca o mesmo”, e decidi usar parte dela.

Almeida despede-se, e no caminho de casa vai a reflectir no que viu e ouviu. Acha estranho Belarmino querer abrir uma casa para se passar música um pouco mais arrojada do que sempre foi habitual nas antigas casas dele. De facto dava para perceber o gosto de Belarmino pela expressão “vira o disco e toca o mesmo”, até porque o bar mudava de nome e de decoração, mas a música era sempre a mesma, e, ainda por cima, quase sempre de má qualidade. E na verdade, aquele local em questão mudou tantas vezes de nome...não se lembra de um sítio que tenha tido tantas inaugurações num espaço de tão poucos anos. Enfim, logo se veria...Mas o diagnóstico não era muito optimista.

Na noite a seguir, Almeida lá foi á inauguração, acompanhado pelos seus amigos Carlos e Duarte. Chegados lá, depararam com uma casa com pouca animação, o que não é nada típico numa noite de inauguração. As sonoridades passadas eram bastante revivalistas, a fazer lembrar um pouco o que se ouvia no mítico Gaivota (uma célebre discoteca da zona que foi destruída por um misterioso incêndio).

Carlos (C) – Com o nome de Viródisco, e não há gira-discos?!? Ahahahaha.
Duarte – (D) – Epá, ó Carlos, bem visto.
C – E esta musiquinha? Foda-se. Ó Almeida, e dizias tu que o gajo estava numa de por aqui pessoal a passar uns sons mais arrojados.
A – Epá, também não é bem a cena do rapaz que ali está a passar música. Sempre é melhor isto que Shakiras e Reggaetons.
D – Lá isso é verdade. Mas foda-se, já chega de andarem sempre a tentar ressuscitar o Gaivota. Mas também com tanto pessoal á escolha para se conseguir fazer essa mistura entre o revivalista e o arrojado, para que é que ele foi chamar este? Enfim...O DJ Caim fazia isso com uma perna ás costas...
C – É o Gaivota e o Mossad. Os fantasmas destas duas míticas casas assombram a nossa zona. Já se chamavam os Ghostbusters para levarem daqui esses dois fantasmas. Chega a ser obsessivo.

(nem de propósito, começa a ouvir-se o tema Ghostbusters de Ray Parker Jr.)

D – Sim senhor, agora ali o rapazito esteve bem. Até parece que estava a ouvir a nossa conversa.
A – Vai na volta. A decoração não está muito má.
C – Yah, come-se. Pelo menos é mais sóbria que as anteriores...
D – Uma inauguração, e a casa assim tão calma...
A- Epá, esta casa já teve tantas inaugurações...já se tornou uma coisa banal...É normal que as pessoas pensem que é apenas “mais uma”. Bem, vou só ali cumprimentar o Belarmino, venho já.

Almeida dirige-se para Belarmino, e começa a falar com ele:

A – Foda-se, lá conseguiste abrir isto e pôr tudo a funcionar relativamente bem. Nem parece que ainda ontem esta merda estava em obras. Pena ainda estar pouco animado...
B – Epá, também ainda é cedo. O pessoal daqui a um bocado já aparece aí em força.
A – Ok...eheheh. Este bacano que puseste aqui hoje a passar som, não me parece que seja o mais adequado para o que estavas a pretender aqui para o bar...
B – Ah, para hoje serve. E para amanhã também.
A – E para sábado, sempre fica combinado?
B – Epá...eu telefono-te amanhã a confirmar isso, pode ser?
A – Ok...Na boa. Tu é que sabes.

Almeida ficou imediatamente com a sensação que Belarmino não lhe iria telefonar nem amanhã, nem em qualquer outro dia. E de facto assim foi. Almeida não ficou nem chateado nem ofendido, e nem sequer foi uma surpresa, pois com Belarmino, já se sabe o que a casa gasta. Belarmino sempre foi pouco coerente no que respeitava a gerir as suas casas nocturnas. Num momento quer uma coisa, noutro já quer outra...não admira que as casas nunca se aguentem durante muito tempo. Com esta não será diferente.

11 comentários:

Anónimo disse...

lololo acho que consigo identificar as personagens ficticias da historia... esse playboyzinho so quer e andar de descapotavel com os amiguinhos e tentar ganhar dinheiro fácil... nao tomes juizo nao oh belarmino...

Anónimo disse...

LLIIINNDDOO !!!!!!!!!!! ahahahahhahahahahah . Ó Belo , arranja mazé uma barrakita e vai vender cachorros... devias ter vergonha de fazer perder tempo a quem trabalha e leva as coisas a serio.

Anónimo disse...

não precisas de dizer mais nada!
li e fiquei a ver o filme todo, se quem é e onde foi e com quem foi.
muito bom! não conhecia essa tua veia literária...
mister simon
http://derterrorist.blogs.sapo.pt

Anónimo disse...

epa esta historia tá mm dmais...cunheço alguns dos intervenientes...alguns sitios como a rosa vermelha, o viródisco etc etc...eduardo inda bem k n foste para lá pois ficarias rapidamente sem trabalhu...foi para lá o pitch boy k ira concerteza fazer tudo para dxtruir a casa tal como fex na sua antiga residencia....

Anónimo disse...

Que dejá vú...

Anónimo disse...

Gostava de ver a cara do Belarmino a ler isto.. ahahah Quero o Capítulo 2 brevemente!!

Anónimo disse...

Bem não á muito a dizer sobre esta história, lol apenas que o "almeida" tem toda a razão e lá vai ser mais uma casa. Enfim mas o inicio da história até leva a crer que o belarmino tenha ganho algum juizo! pelos vistos quando falou com o almeida devia ter acabado de ter fumado aquelas coisas que fazem rir. LOL

Anónimo disse...

Esta história encaixa na prefeição na de noite de Setúbal. Por essa razão a noite chegou a este estádo. Gaios, Belos, o outro do Porto de Abrigo que ainda vai arranjar maneira de a festa de Berlim não se realizar, são todos farinha do mesmo saco. Estão completamente desinformados da noite. Não pescam nada de nada, nem uma relote de cachorros sabem gerir. Tenham vergonha na cara e fiquem em casa a cuidar dos cãezitos. Ja chega!

Electrobot disse...

?!?!?

Isso do Porto De Abrigo é a sério? Ninguém me disse nada, ainda...

Anónimo disse...

és o maior simon. a historia ta boa, e tal como todos os outros mostras a ferida mas nao apresentas a cura. falar é fácil, fazer é bues dificil. temos pena !

Electrobot disse...

O grande problema é querer-se fazer, e não nos deixarem...