domingo, dezembro 23, 2007

Rogério Martins - entrevista em www.ritmurbano.com



Afirma-se um amante incondicional de música, boa música, passeando os seus gostos por vários estilos. Rogério Martins, setubalense de gema, é um aclamado disk-jockey nacional cujo universo derruba qualquer muro de sonoridades. A culpa de fazer aquilo que mais gosta é de um amigo que o influenciou a experimentar o dj'ing. Em 1995 Rogério Martins começa aquela que iria ser a sua grande carreira. Para o Dj, o seu percurso poderá ser dividido em três fases: Inicia-se com o Tecnho, passando pelo Deep e Funky House e tocando, presentemente, faixas de Tecnho e Minimal. Em Junho deste ano inaugura a sua primeira editora - Piston Recordings - onde se pode aprender com o mestre a arte de comunicar através da mágica combinação de sons.

Entrevista:


Quando é que sentiste que querias ‘dar música’ aos outros?


No ano de 1995 foi quando comecei a dar os primeiros passos no dj’ing. Obviamente já acompanhava o que por cá se fazia em termos de festas e alguns clubs, mas sempre do lado de fora da cabine, e sem nunca realmente pensar em dar o passo para os comandos da mesma.Era só mais um “music lover” que deambulava de festa em festa, até que por intermédio de um amigo que na altura também estava a dar os primeiros passos dele, decidi experimentar, e desde aí nunca mais perdi o bichinho de “tocar”.

House Music foi o estilo com que começaste a dar os primeiros passos como Dj. Hoje em dia os teus sets têm sonoridades mais ligadas ao Minimal, Techno e Electro. Mudam-se os tempos mudam-se as sonoridades ou simplesmente encontraste a tua voz?


Não propriamente. Na realidade quando comecei a tocar, andava mais pelo Techno e algum Minimal da altura. Não sei se devido a sempre ter gostado de muita música diferente, nunca me senti obrigado a definir uma linha musical precisa, mas de facto passei por 3 fases distintas até aos dias de hoje, vindo do Techno, passando pelo Deep, Funky House, e de volta ao Techno, Minimal.
Acho que simplesmente faço o que me dá na cabeça, e penso que assim é que deve de ser, pois acima de tudo, fazermos o que realmente gostamos é mais importante que qualquer aspecto comercial que possa existir.

O que mudou no panorama da música electrónica?


Nacionalmente falando acho que se continua a progredir, talvez mais lentamente do que alguns de nós desejaríamos, mas na minha opinião existem vários factores que impedem que assim seja. No entanto basta comparar a oferta que se tinha a nível de festas e DJ´s há 15 anos e a diferença é abismal.
Internacionalmente, a música de dança deixou de ser um nicho e hoje em dia tem valores que asseguram tanto ou mais popularidade que muitas estrelas pop-rock, algo impossível de acontecer no princípio dos anos 90. Continua a existir no entanto muita música feita à margem dos circuitos comerciais, algo que a meu ver sempre caracterizou o movimento, o que continua a garantir a oferta em termos de qualidade.

O público que pisa o dancefloor é um público exigente? Como descreverias as pessoas para quem tocas?


Penso que na generalidade é um público exigente. Felizmente acho que se evoluiu bastante em termos de público, a maior parte das pessoas hoje em dia já sabe o que vai ouvir quando vai ver determinado dj a determinada casa. Antigamente era mais, vamos à festa, por irmos á festa, se bem que eu também ache que essa fatia do público seja importante.


As sonoridades que te influenciam passam por uma parafernália de estilos musicais, desde Hip-Hop, Soul, Funk a várias correntes de música electrónica. Um DJ só é bom DJ se absorver ao máximo estilos musicais diferentes?


Não seria radical ao ponto de afirmar isso, mas acho que qualquer DJ que goste do que faz, tem que ter um amor incondicional à música. Logo, absorver ao máximo estilos musicais diferentes é algo que está inerente à profissão, a meu ver. Isso depois é uma questão de a música ser boa ou má, porque música é simplesmente música, independentemente do estilo...



Por estas terras fora já actuaste ao lado de nomes latejantes no mundo da música electrónica (Chemical Brothers, Jeff Mills, François Kevorkian, Del Costa aka Magazino, entre outros). Como funciona o universo dos Disk-Jockey: existe solidariedade entre eles, ou “rosnam-se” quando têm de pisar a mesma cabine?


Falando pela minha curta experiência, eu acho que o ambiente em geral é muito bom entre DJ´s. Além de termos a mesma profissão é óbvio que partilhamos muitas vezes interesses comuns em várias áreas. Obviamente poderão existir casos pontuais, mas a meu ver isso são situações pessoais e que nada tem a ver com a profissão.

A Webrádio Von YC (www.vonyc.com/radio) de Paul Van Dyk conta com um projecto mensal teu. Como encaras a Música vs Internet?


É sabido que a Internet veio mudar muitos moldes de negócios existentes e o da música foi um deles. Foi uma mudança extremamente radical, mas que hoje em dia lentamente estabiliza e começa a tirar os proveitos que pode da própria Internet. Acho que acima de tudo a Internet hoje em dia é uma excelente ferramenta de promoção para novos talentos que querem sair do quarto e passar para o palco.

Em Junho deste ano iniciaste a tua Editora – Piston Recordings - que geres e promoves e na qual ensinas Produção no dancefloor. Existem muitos obstáculos para se ser dono de uma editora? Portugal, com suas leis e Cultura, é um país receptivo a este mercado?

Penso que existem os mesmos obstáculos que possam existir em qualquer outra actividade.No entanto em termos de mercado, é quase, senão impossível, pensar só em termos nacionais, devido ao mesmo ser demasiado pequeno. Hoje em dia temos cada vez mais que pensar em termos globais, e apontar canhões nessa direcção. Ainda acho que existe muito do nosso querido complexo de inferioridade que só o que é estrangeiro é que é bom, de maneira que depois de dar que falar fora do país as portas cá dentro abrem-se muito mais facilmente.

Qual o feeling de ser DJ?


É bom! Fora de brincadeiras, acho que é uma parte muito importante, senão a mais importante, da minha carreira. É no dancefloor que tens o contacto directo com o público, as pessoas para quem tu trabalhas. É muito gratificante ter uma pista a berrar ao som do tema que acabaste de produzir na semana passada, ou aquele disco maravilhoso que compraste hoje.

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