Como o prometido é devido, vamos agora falar dos caminhos que o Electro percorreu entre os fins dos anos 80 e o começo do século XXI:
Por volta de 1986/87, sonoridades como o Electro-Funk (hoje conhecido como Electro Old-School) ou os diferentes géneros de Electro-Disco (como o Hi-NRG, o Italo-Disco ou o NY Disco típico de produtores como Larry Levan) começaram a ser postos um pouco de lado devido á cada vez maior força de estilos como o Hip-Hop (estilo Run DMC, Public Enemy, De La Soul ou Eric B & Rakim, que vieram subsistuir um Hip-Hop de teor mais electrónico por um de teor um pouco mais orgânico, muito baseado em "samples" de temas de Soul e de Funk dos anos 60/70), o House e o Techno. Claro que o Electro-Funk, o Electro-Disco e o Electro-Pop influenciaram fortemente tanto o House como o Techno, mas a convivência entre ambos os estilos parecia um pouco complicada, e no fundo tanto o House como o Techno eram como que evoluções ou derivações desses estilos.
Ao mesmo tempo o movimento da Electronic Body Music (EBM) continuava bastante forte, com nomes como Nitzer Ebb, Front 242, Skinny Puppy, The Neon Judgement,etc. Este era um movimento que derivava tanto do Electro-Pop, sobretudo dos Depeche Mode ou dos D.A.F. , como dos projectos mais Electro-Industriais como os Cabaret Voltaire ou os Throbing Gisttle. Era uma sonoridade electrónica bastante agressiva, com letras muito agressivas e até belicistas, era quase como o "Heavy-Metal" da música electrónica. Ouvir temas como Join In The Chant dos Nitzer Ebb, No Shuffle dos Front 242 ou TV Treated dos Neon Judgement para conferir. O movimento EBM também esteve na origem do chamado New Beat, quando numa qualquer discoteca belga, em meados dos anos 80, DJs como Marc Grouls ou Olivier Peters começaram a tocar a 33 rotações em vez das recomendadas 45 um tema de EBM , o Flesh dos A Split Second, dando assim mais ênfase ao baixo e ao "beat" e menos ás vocalizações. A partir muita gente começou a procurar e a tocar discos, fossem eles electrónicos, de pop/rock ou Disco-Sound que soassem bem a 33 rotações, ou que na sua velocidade normal conseguissem emular essas sonoridades. Daí até se começarem a produzir discos que emulavam o que se ouvia nas pistas de dança foi um rápido passo, e até se começar a tocar discos de New Beat com outros de EBM, House, Acid-House e Techno foi também um rápido passo...Conferir temas de New Beat como Snowy Red- Euroshima/Wardance, Boytronic- Bryllyant, 16-Bit- Hi-Score, PLB System- Artificial Defense (Esta Loco) , Jade 4 U -Rainbows ou Amnesia-Ibiza. Também surgiram híbridos engraçados entre New Beat e Acid-House, como Ecstasy Club-Jesus Loves The Acid ou Lords Of Acid- Hey-Ho!. E cedo começou a hibridização entre o New Beat e o House e o Techno, que criou novos subgéneros...até ao New Beat tal como o conhecíamos ter desaparecido nos inícios dos ano 90.
O Electro-Funk, apesar de até 1987 ter continuado a existir com produções de Mantronix ou de Davy DMX, e até com êxitos como Push It das Salt n Pepa ou Supersonic das J.J. Fad, perdeu algo da sua força, mas continuou a ter relevância na quente cidade de Miami inclusivé até aos dias de hoje, com a designação Miami Bass, com produtores como Dynamix II, Bass Mekanik ou Luke Campbell dos 2 Live Crew, e com letras bastante eróticas (quando não pornográficas mesmo...). Também existe a versão mais vanguardista deste movimento, através de produtores como Phoenicia ou Richard Devine. O Electro-Funk também continuou a ter relevância na cidade mãe do Techno, em Detroit. Estetas como os Underground Resistance de Mike Banks, os Drexcya, os Octave One, os AUX-88, Le Car, Dopplereffekt, Adult. ou o Will Webb continuaram a fazer temas de Electro fortemente influenciados pelo Electro-Funk (e não só...), em conjunto com trabalhos mais próximos do Techno, em labels como a UR, a Ersatz Audio, a Planet E ou a 430 West. Em Detroit surgiu também o GhettoTech, com nomes como DJ Assault ou DJ Godfather, que são como o equivalente de Detroit ao Miami Bass. Estetas britânicos mais ligados ao Techno e á música electrónica em geral como Andrew Weatherall, Aphex Twin, Ed DMX, Advent, Dave Clarke, Radioactive Man, Octagon Man a.k.a. J. Saul Kane ou Jedi Knights continuaram a produzir temas de Electro, e no caso de Dave Clarke ou Octagon Man, até a editar compilações que mixavam temas mais Old School com coisas novas, na já mítica série Electro-Boogie da K 7. Também na Holanda estetas como I-F ou Legowelt começaram, nos finais dos anos 90, a editarem temas influenciados tanto pelo Electro mais Old-School como pelo Italo-Disco (ouvir o magistral Space Invaders Are Smoking Grass do I-F), e surgiram labels como a Clone ou a Viewlexx, e na Alemanha Anthony Rother começava na mesma altura a editar trabalhas fortemente influenciados tanto pelo Electro mais Old School como pelo Electro-Pop.E também na Alemanha DJ Hell cria a sua label, a International Deejay Gigolos, que também vai editar tanto projectos de Techno, como de Electro, seja de produtores de Detroit, seja de produtores europeus.Não esquecer também a editora alemã Disko B.Na Austria era criada a label Cheap, de Gerard Potuznik, que também editava sonoridades ligadas ao Electro. Também em Nova Iorque Morgan Geist começava a dar os primeiros passos ao construir sonoridades que tanto deviam ao Electro-Disco como ao Techno de Detroit, fosse a solo, fosse com o seu projecto Metro Area. Foi também no fim dos anos 90 que Trevor Jackson criou a "label" Output.E o fenómeno Big Beat também referenciava o Electro, em projectos como os Freestylers.
Por outro lado, na 2ª metade dos anos 90, surgiu o chamado "French Touch", onde produtores franceses como Daft Punk, Air, Etiénne de Crécy,Mike 303, Alex Gopher ou Dimitri From Paris começaram a ganhar relevo na "dance-scene" internacional. Apesar de o "French Touch" ser fortemente associado ao Disco-Sound, por ser uma das mais fortes fontes de inspiração desse movimento, a verdade é que também muitos temas de Electro-Funk, de Electro-Disco e até mesmo Electro-Pop eram utilizados na forma de "samples" em muitos desses temas, criando, por assim dizer, as coordenadas para o chamado Electro-House. E não eram só os franceses que faziam isto, a "label" britânica 20/20 Vision também incorporava (e ainda hoje continua a incorporar) nos seus temas fortes influencias das linguagens mais ligadas ao Electro. E os trabalhos iniciais de Mathew Herbert, sobretudo no projecto Dr. Rockit eram também notoriamente influenciados pelo Electro. E foi também no fim dos anos 90 que surgiu o projecto Les Rhythmes Digitales, de Jacques Lu Cont (nome verdadeiro Stuart Price) que também misturava sem qualquer problema House, Electro e Breakbeat. Isto é notório, ao ouvir-se os seguintes temas: Random Factor-Broken Mirrors, Scott Grooves-Mothership Re-Connection(Daft Punk Mix), Daft Punk- Teachers, Superfunk- Come Back (Supafly Mix), Les Rhythmes Digitales- Jacques You Body (Make Me Sweat) ou Air-Sexy Boy. Também em França, na mesma altura, mas áparte do fenómeno "French Touch", The Hacker e Miss Kittin começavam a dar os primeiros passos em termos de produções. O hoje famoso Champgne E.P. que traz o tema Frank Sinatra foi editado pela Gigolo ainda durante os anos 90...
O Electro-Pop, em contrapartida, continuou com bastante visibilidade, e nomes como Depeche Mode, Erasure, Pet Shop Boys, Electronic (um projecto que juntava Bernard Summer dos New Order com Jonhy Marr dos Smiths) e New Order continuaram a ter êxito durante os anos 90, embora tenham por vezes editado albúns em que o Electro-Pop se miscigenava com outros estilos. O caso de maior sucesse durante os anos 90 foram os Depeche Mode, e é curioso ver que os Depeche Mode são idolatrados por pessoas de diferentes géneros musicais, seja do Metal, seja do Techno, seja do House, etc...Se bem que os problemas que Dave Gahan, vocalista dos Depeche Mode, teve com a droga, iam acabando com a banda...Mas felizmente parece que isso é coisa do passado.
Mas, exceptuando o Electro-Pop, o Electro viveu o fim dos anos 80 e os anos 90 num período de relativa obscuridade...até que em finais de 2000 foram editados os albúns de Chicks On Speed-Will Save Us All e Ladytron-604, e os máxis de Fischerspooner-Emerge e Blackstrobe-Innerstrings.
A partir daí algo começou a mudar na "Dance-Scene"...E irei falar disso no 3º e último capítulo da História do Electro.