Balanços do ano que passou.

Pois é, 2005 já passou, e 2006 lá chegou...eheheheh.

Em termos musicais, parece-me que foi dos anos mais ricos em termos de música nova, e também em termos de reedições. Para mim cada vez mais se torna redutor utilizar a expressão "Electro e derivados" (tão odiada por muita gente, mas que a mim, até há uns tempos atrás fazia sentido...), porque cada vez mais não consigo definir o que estou a ouvir, porque muitos temas têm ao mesmo tempo influências de muita coisa...existem temas onde se consegue ouvir ao mesmo tempo influências de Disco (seja Disco "puro" ou a facção Italo), de Electro, de Techno (sobretudo o de Detroit e o Minimal), de House (sobretudo Acid-House), de sonoridades mais "minimais"...enfim, uma autêntica miscelânea, e vamos a ver onde isto vai parar...a música electrónica é mesmo assim, está em constante mutação.

2005 foi também o ano da confirmação da DFA como uma editora de qualidade, tendo de facto merecido o "hype" que se criou á volta dela. Os álbuns de LCD Soundsystem, Juan McLean, Gavin Russom & Delia Gonzalez ou Black Dice foram dos melhores álbuns editados este ano, e os máxis editados (e remisturas saídas da DFA a outros artistas como os Gorillaz, por exemplo) puseram tudo o que era pista de dança mais esclarecida (e por vezes até não muito esclarecida, para minha surpresa...) completamente ao rubro.

Foi também o ano do regresso em grande do Disco-Sound, sobretudo graças pessoal escandinavo como Lindstrom, Prins Thomas, Todd Terje, Kango`s Stein Massive, Blackbelt Andersen, entre outros, que recuperaram com afã sonoridades tanto ligadas ao Disco-Sound de teor mais electrónico de um Giorgio Moroder, de um Patrick Cowley ou de um Cerrone "circa" Supernature, como ligadas a algum Italo-Disco, sobretudo aquele de teor mais cósmico. Prestar atenção a editoras como a Feedelity, a Full Pupp ou a Trailerpark. Também fortemente ligado ao Disco-Sound estão os re-edits ligados a editoras como a Tirk, Rong, Disco Sucks, Bear Funk, etc, e onde nomes como os Idjut Boys ou DJ Harvey aparentam estar novamente de volta á ribalta. E a série Automan, que reedita de forma não muito legal temas de Disco e Italo-Disco voltou a surpreender-nos com clássicos difíceis de encontar de forma normal, como por exemplo a remistura de Patrick Cowley ao Hills Of Katmandu dos Tantra ou o Robotism dos Methusalem. E a própria DFA também não é indiferente ao Disco-Sound...

E aliás, 2005 foi um anos em que houve muitas reedições, fossem de Disco-Sound, fosse de Italo, fosse de Acid-House e restante House de Chicago, e até de muitas coisas ligadas ao Techno/House de Detroit, como por exemplo reedições do catálogo da Planet E de Carl Craig, e até de algumas coisas de nomes como Moodymann ou Theo Parrish, e também já começa a haver reedições de catálogos de editoras como a Nu Groove.

No fim do ano passado preveu-se que 2005 iria ver uma forte recuperação do Acid-House, e em parte tal até aconteceu, com edições como a compilação Acid? Can You Jack da Souljazz ou a compilação Atom TM - Acid Evolution 1988-2003 (tudo temas produzidos por Atom Heart aka Uwe Schmidt) e compilações da editora de Chicago Trax, e não há como que negar que este ano se ouviu muito Acid-House nas pistas de dança, fosse o puro, fosse em mistura com estilos como o Electro ou o Techno/House Minimal , mas a verdade é que o Disco-Sound "roubou" o trono ao Acid-House.

E pelo rumo que as coisas estão a tomar, prevejo que para o ano exista uma recuperação de coisas mais ligadas ao House nova-iorquino, ou seja, de coisas mais ligadas a editoras como a Strictly Rhythm ou a E-motive, e penso que virá por aí uma recuperação de Detroit Techno mais clássico (que aliás já se começa a notar...), tudo misturado nesta nova equação Electro-Disco-Tech-Acid-Minimal...Vamos ver o que 2006 nos traz.

E sítios como o Lux, o Opart, o Clube Mercado mostraram mais uma vez estar na vanguarda das coisas novas que se vão fazendo. E este ano trouxe-nos artistas como LCD Soundsystem, King Britt, Trickski, Tiga, Ivan Smagghe, Michael Mayer, Superpitcher, Tim Sweeney, Juan McLean, Vitalic, Moodymman, Gavin Russom & Delia Gonzalez, Franz Ferdinand, Arcade Fire, DJ T, Laurent Garnier, Afrika Bambaataa, Arthur Baker, Trevor Jackson (Playgroup), Oskar Melzer, Chris Cunningham, 2 Many DJs/Soulwax, Optimo, Jackson, Jamie Lidell, Who Made Who, Craig Richards, Andrew Weatherall, entre outros, além da entrega de prémios da MTV Europe, com a estreia ao vivo do novo tema de Madonna, e onde participaram artistas como Gorillaz ou Black Eyed Peas...um ano que de facto nos trouxe muitas coisas para vermos...

Em termos da noite de Setúbal, 2005 foi um ano melhor que 2004, com mais festas, com um pouco mais vontade de se arriscar em coisas mais inovadoras. O ADN deu mostras de se querer reinventar um pouco mais, nas sextas apostou sempre em noites diferentes, quase sempre com sucesso, e mesmo aos dias normais tem havido um esforço para não se cair na armadilha da "playlist", e , também decidiram apostar num novo conceito de noite, em sonoridades mais viradas para o "Electro", cujo responsável sou eu, e que tendo começado ás quartas, em princípio, em meados ou fim deste mês se voltarão a re-iniciar, mas ás quintas-feiras. E a partir de 2006, muitas das noites de sexta serão programadas pelo Pedro Viegas, o que é garantia que o ADN em 2006 vai trazer-nos surpresas bastante agradáveis.

Outro bar que continuou a apostar em noites diferentes foi o Baco, cada vez mais interessado em trazer pessoal diferente para lá passar som, e continua a ser um dos bares com mais boa-onda de Setúbal, em conjunto com o La Bohémme.

Surpresa bastante agradável foi também o bar MXL...de um bar em que no início pouco apostava em coisas mais "frescas", com o passar do tempo decidiu apostar noutros conceitos de noite, e tem tido sucesso, ao fazer festas tanto no espaço físico do MXL, como noutros locais. E a festa no Castelo de São Filipe ficará na memória de muita gente por muito tempo, e tudo por boas razões. Ambiente espectacular, boa música, e aquela sensação de estar com o pessoal amigo, ao ar livre, com boa música. E têm apostado em bons DJs, como o Safara, a Sukik, o Pedro Tiago, o Cid ou o Roger Urb.

Menção honrosa também para as noites com o Safara e a Sukik na parte de cima do SpyClub, sempre com bom som e a cada noite que passava, com cada vez mais público...pena a falta de condições em termos de material de som...

Menção honrosa também para as festas no SpyClub com o Del Costa & Pedro Goya, e também esta última com eles, com o DJ Time e os Freshkitos. Já era altura de "os rapazes voltarem á cidade".

2005 foi porreiro, mas 2006 promete sê-lo mais ainda, e sei que existe a forte possibilidade de se virem a fazer coisas bastante interessantes na zona de Setúbal e arredores...É esperar para vêr.

Em termos de dinâmica de bares, infelizmente continuou-se a abrir mais bares dedicados ao "pop e (pseudo) fashion", como o horrendo Very Light, do que bares mais alternativos, tendo a honrosa excepção sido o O Outro Lado, se bem que este bar precisa de fazer uns melhoramentos em termos de som e de material de som...

Em termos de discotecas, abriu o Design no sítio onde inicialmente era o tão saudoso-para-muita-gente-KGB, e , apesar de ainda não ter lá ido, garantem-me que o Design é o "KBG-back-from-the-dead", apenas com uma decoração diferente. Parece que pôs o SpyClub um pouco em baixo, o que para mim foi positivo, porque obrigou o Spy a apostar em eventos com qualidade. Abriu também o Amo-te Setúbal, que ao que parece só esteve cheio no dia de inauguração, mas é compreensível, devido ás grandes confusões em termos de pagamento de cartões (e não só...) e preços praticados...deu há pouco tempo lugar a um espaço chamado Del Mar, que nem sei qual é a filosofia da casa...O Kopus Club também fechou (não me surpreende), e o Newave deu lugar a uma discoteca (cujo nome não memorizei...) que só passa Kuduros, Kizombas, Reggaetons e coisas do género (nunca lá pus os pés, e nem faço tenções).

E assim foi 2005...Venha de lá 2006.