domingo, julho 17, 2005

No meio das Serras

A saudável discussão que se desenvolveu neste Blog acerca da tentativa de “criar movida” aqui na zona Palmela-Setúbal, levou-me a pôr em causa a possibilidade de fazer uma “noite diferente” num estabelecimento nocturno virado para sonoridades mais “comerciais”.

Neste fim-de-semana tive a oportunidade, juntamente com um amigo, de fazer uma noite no Big P, na Sertã. A temática musical seria mistura de Mash-ups, House-todo-fodido - ao estilo Get physical/Kompakt – Electro-House e derivados ( punk funk, etc.). À partida estava receoso, porque já tive experiências desagradáveis numas noites em casas ditas de som comercial em que literalmente senti (sentimos, não é Eduardo?) o ódio da pista de dança na minha direcção. Ora, estas minhas dúvidas não se confirmaram de todo, olhando umas horas para trás só posso dizer que correu tudo muito bem. Começámos por volta da 1h e às 2.30 a discoteca estava à pinha. Ao olhar para a caras e corpos reparava numa espécie de apreensão / ambientação ao som, como se quisessem avançar mas com cautela. Aconteceu, por uma meia hora, aquele fenómeno estranho (não sei se característico de Portugal) em que todos ficam no limiar da pista de dança a olhar para esta, mas ninguém avança, como se estivesse uma fogueira gigante lá no meio e todos tivessem medo de se queimar. Foi aqui que percebi para que é que servem os fumos que se mandam lá para o meio para “abrir a pista”; servem para encobrir os mais destemidos. ex. Não está ninguém na pista – pfffffffffffffffffffffffffffffff – epá…já lá está gente!.

Bem, o que se passou deita por terra a teoria do “tens de pôr uma musiquinha que o pessoal conheça para isto arrancar…algo…assim…comercial”. Toda a gente arrancou com Michael Mayer e a partir daí nunca mais pararam: Tiga, Dj Hell, Mylo, Alter-Ego, Tiefschwarz, Chemical Brothers, Dj Naughty, Felix the Housecat, Patric Baumel, Dj T., Thomas Andersson, Vitalic…tudo resultou.
É óbvio que nem toda a gente gostou, há sempre os resistentes do vira do disco e toca o mesmo, mas o que interessa verdadeiramente foi que a maioria aderiu com som que não estavam habituados a ouvir.
Fez-se uma noite “diferente” com sucesso pleno. Acabei o meu set por volta das 5h15 e passei os pratos ao residente para a hora final, aconteceu assim porque quis que quem lá estivesse acabasse por ouvir algo novo e saísse com a sensação de bem-estar de quando vamos para casa com um noite em cheio. Devo dizer que não houve uma passagem bruta para uma música tipo “a do Simão em versão Kizomba” (Gisco) …manteve-se a onda, nada de foleirices.

Que conclusões podem ser tiradas?

A Sertã, como muitas outras Terras em Portugal, está um pouco isolada, logo a absorção da novidade é muito mais rápida do que num local constantemente bombardeado com informação. Como não existem ideias pré-definidas ou grupos de pressão não existe tanta resistência. Na minha opinião são estes os grupos que mais prejudicam a diversidade. A eles estão associados pessoas com poucos interesses à parte de fazer dinheiro – falo aqui de empresários ou gerentes – e outras com um certo ar snobe, orgulhosas em ser mais um no rebanho do mainstream, sempre ávidos de novas modas em que se possam copiar uns aos outros, para todas estas a música não passa de um acessório.

Ao Fred K, ao Eduardo, ao Zé, ao MP, ao Gisco e ao Bionic (e a quem quiser): comentem s.f.f.


Mário João

14 comentários:

Anónimo disse...

Acho que tens toda a razão quando falas nas ideias predefenidas, é que é mais simples se calhar fazer as pessoas mais "simples" ou menos preocupadas com a "moda" divertirem-se a ouvir qualquer coisa diferente que não seja igual a todos os dias, do que chegares aqui à suposta cidade moderna e evoluida e fazeres o mesmo, isto por aqui está tudo rotulado e não se querem saber cá de escapes a rotina diária e banal.

Electrobot disse...

É muito bom verificar que existe malta que está aberta a ouvir e/ou divertir-se com coisas novas, em vez de estarem sempre á espera do que é mais conhecido/acessível/comercial...

Penso que, com calma, uma noite como a tua poderia, acontecer em Setúbal e arredores, em sítios estilo o SpyClub, o Xcêntriko, o Amo-te Setúbal, o Culto, e no recém-aberto Design (onde eram os antigos KGB, Bubble Club, Português Suave, etc...).E tanto no Spy como o Xcêntriko têm dois espaços diferentes que poderiam ser melhor aproveitados...

O grande problema é a falta de abertura de quem é dono/gerente das casas em questão...Decidem só apostar no "mainstream", e criam uma pescadinha de rabo na boca, pois quem frequenta as casas deles só ouve o "mainstream", e como tal, criam um certo preconceito em relação a tudo o que soe minimamente diferente...Ou seja, em Setúbal e arredores existem esses tais "grupos de pressão" de que falas. É a tal questão de só abrirem casas iguais umas ás outras...Mas o mais engraçado é verificar que há muita malta habitualmente frequentadora (ou pelo menos era...) desses espaços mais "mainstream" a frequentarem casas como o Baco, o La Bohémme, o Estória e o ADN...

(O facto de a câmara de Setúbal estar há dois anos sem responder ao pedido de extensão de horário por parte do ADN também é nojento...)

Mesmo assim, acho que devemos investir esforços em criarmos nós a nossa própria movida, tal como tu disseste e bem, porque ninguém se vai mexer por nós...

Anónimo disse...

Hey amigo Mário, fico super feliz por saber desta forma que a tua noite correu muito bem. :D Inevitavelmente os "fumos" por vezes fazem maravilhas, e neste caso resultou. hehehe
Em relação à nossa movida, digo nossa, porque acho que todos lutamos pelo mesmo (e está um grupo porreiro e c/vontade de inovar) tem forças para construir algo diferente, mas ao mesmo tempo acessível e sem banalidades tantas vezes verificadas. A primeira pedra está lançada... Que a força esteja connosco.

Um Abraço

MP disse...

Well, ponto de vista algo diferente é o meu...
Primeiro, e citando Erland Oye a máquina de fumos é "a pior invenção que se fez para uma discoteca". Pessoalmente não gosto.
Quanto às pessoas que não estão sujeitos a grupos de pressão, tanto pode ser bom como mau. Por um lado, os grupos fazem pressão para que se oiça determinada coisa, por outro, se não existirem, também não saberás do que não gostas... Mais um lado, como é público ávido de coisas novas, não saberão reconhecer se gostam porque gostam, ou se gostam porque nunca ouviram. Não duvido que tenhas tocado um óptimo set (eu toco coisas semelhantes ou as mesmas...), mas ficas sem saber por que é que gostaram. É impossível fugir às garras do mainstream, mas é possível educar as pessoas e mostrar que há muuuito mais coisas do que o tocado pelos Dj's banais. Em suma, a luta não é a de procurar público virgem, mas sim de guiar os hipnotizados para as outras coisas.

Anónimo disse...

não é a questão de encontrar "publico virgem", não me quis alongar mais no texto porque esta temática será interminável. a questão para mim será mais a impossibilidade de combater o "comercial" numa luta igual, ou seja, tentar confrontar um super-estrutura, uma máquina de marketing gigantesca. o que há a fazer é simplesmente ignorar o sector comercial e focar na criação genuína.
a esperança será sempre encontrar alguém no meio da multidão mainstream que passe para o outro lado; e não falo aqui de "educação"...por mais que tente soa-me sempre a paternalismo, falo de apenas de exposição. Existem coisas diferentes para ouvir, no entanto já interiorizei que a maioria não se interessa por isso, daí "a música como acessório" como referi no texto.
quando vejo alguém a responder à música seja em set, seja em casa, no carro, nunca me passa pela cabeça porque é que estão a gostar. basta-me a ideia que se estão a divertir.

cada vez chego mais à conclusão que o que cansa nem é existir música má, nem pessoas que gostem dela [se não existisse mau gosto o meu não seria bom]...o que me cansa é debater "porquê, porquê, porquê" que as coisas estão assim, apetece-me dar um corte radical e andar para a frente sem olhar para o merda à nossa volta. "Não gostam??é muito alternativo?...ok, vou fazer pior." haverá sempre quem acompanhe e esses é que interessam.

posso estar completamente errado, mas é o que penso neste momento.

Electrobot disse...

Vou também dizer uma coisa que voçês poderão achar estranha,poderão até ficar chocados, mas é o que eu sinto...

Eu não me importo nada que haja pessoal a gostar ao mesmo tempo de Electro e de Kizomba, por exemplo...Eu não gosto de Kizomba, acho que é um estilo musical com fraca qualidade, mas essa é a minha opinião...Eu por exemplo gosto de coisas tão díspares quanto Tiefschwarz, Blondie, Joy Division, Kelis, Kylie Minogue, Derrick May, Herbie Hancock, Beastie Boys, Kraftwerk, Franz Ferdinand, Cerrone, Adonis, Carl Craig, Daft Punk, Justin Timberlake, Michael Mayer, Depeche Mode, Mathew Jonson, Herbert, Michael Jackson, AC CD, M.I.A.,Sex Pistols, Missy Elliot, Gang Of Four, etc...E as pessoas nem têm de saber o nome de tudo...Só gostava era que em certos sítios as pessoas tivessem a mente mais aberta, ou pelo menos não tivessem tantos preconceitos.

Não me choca que uma pessoa tenha na sua discografia pessoal um álbum do Michael Mayer e a seguir um álbum de um qualquer artista de Kizomba...Um amigo meu, um gajo que eu considero com um dos melhores gostos musicais aqui da zona tem um ou outro cd de música pimba, e não tem qualquer problema em admiti-lo...Eu próprio tenho um fraquinho por algum Italo-Disco manhoso dos anos 80, estilo Modern Talking, Sandra, Baltimora, Ryan Paris, Sabrina, etc...

Também não me preocupo com a razão pela qual alguém está a gostar de me ouvir passar som, quando o faço...Se estão a gostar,e a divertirem-se, já é o suficiente para eu ficar contente...

p.s.A única vez que me custou passar som foi aquela "tal" noite no Bar Da Vila, em conjunto com o Mário João...tivemos pessoas a gritar contra nós...sentiu-se um autêntico ódio, tal como o Mário João disse...mas a verdade é que não sei se isso não terá sido melhor do que termos simplesmente causado indiferença...

Electrobot disse...

Outra coisa...se calhar o pessoal que ouviu e divertiu-se com as sonoridades que o Mário João tocou lá na Big P passa a vida a ouvir coisas mais "mainstream", mas a verdade é que na altura de ouvir algo diferente do que supostamente estão habituados, reagiram bastante bem...E isso para mim já é muito positivo...

Anónimo disse...

As minhas desculpas por nao ter comentado o mais cedo.Estou completamente em desacordo com a cena do "gostar porque nunca ouviram ou gostar porque simplesmente gostam", eu acho que quando se gosta gosta-se mesmo porque e agradavel ao ouvido e nao porque nunca se ouviu antes(digo eu).Agora acho que existe uma pequena diferenca (no meu ponto de vista), entre estar no meio de um grupo que e tendencioso para um genero ou um espaco que frequentam regularmente e apanhar esse grupo no Lux numa boa noite, os gajos que se calhar criticam o nosso genero de musica, se se apanham por la numa boa noite adoram aquilo so porque e o Lux, quem diz o Lux diz o Quenns diz o Kremlin, diz a kadok, diz o optimus hype etc etc etc...
O que e facto e que o pessoal tem efectivamente ideias predefenidas consuante o sitio onde se encontram se estao em "casa" querem ouvir o mais "mainstream" que e o que se ouve diariamente nesse espaco, no entanto o nosso som ate lhes agrada mas basta um dizer que nao gosta para todos se juntarem ao "manifesto" e criticarem igualmente!
Temos que ser abertos a todos os tipos de som nem que seja para dizer mal, o Dj e alguem que esta a fazer algo que gosta, ou seja, esta a passar a musica que gosta e
fica contente quando o publico se mostra receptivo ao seu som, no entanto nao tem que ser flexivel ao ponto de passar algo que nao se identifica, kizombas, etc, etc.
Tem que se ter respeito pelo Dj, se nao gosta come so as batatas e vai-se embora.
(Nao tenho pontua;ao neste PC, desculpem a ortografia)
Um Abraco
PS-Entao e essa reuniao e para quando?

Anónimo disse...

Apostava na reunião já para amanhã, que dizem?

Anónimo disse...

Estou lá 7 da tarde que dizem????
Desta feita não falto, prometo!!

Electrobot disse...

Bem, tem que ser ás 7 da tarde na tua casa ;)...lol

Electrobot disse...

Em relação á parte onde dizes "no entanto o nosso som até lhes agrada mas basta um dizer que não gosta para todos se juntarem ao "manifesto" e criticarem igualmente!"...Se são assim, então revelam uma enorme falta de personalidade. Eu se estou num grupo e estou a gostar do que estou a ouvir, e outra pessoa desse grupo não gostar, por muito amigo que eu seja dela, não vou contra o que penso ou sinto...E não sei até que ponto Setúbal á noite não precisa que certas pessoas deixem de ser "maria vão com as outras" e comecem de facto a divertir-se como gostam e bem entendem, em vez de se sentirem "amarrados" por uma qualquer "pressão social" e de terem de seguir um certo estereótipo...

Anónimo disse...

"e comecem de facto a divertir-se como gostam e bem entendem, em vez de se sentirem "amarrados" por uma qualquer "pressão social" e de terem de seguir um certo estereótipo..."
Gostei!!!É mesmo isso divertirem-se como querem sem qualquer tipo de preconceito a ouvir algo novo fresco e diferente...
É mesmo disto que estamos a precisar de algo, NOVO, FRESCO E DIFERENTE!!!!!

Anónimo disse...

Quem sabe as 4 cabeças pensantes não cheguem a algo interessante... :)